22 de fevereiro de 2012

SHADOWSIDE: UMA VISÃO EMPREENDEDORA


Dani Nolden
Foto Extraída do Site
 Por João Messias THE ROCKER

Das milhares de bandas da nossa cena. uma das que mais trabalham são os santistas da Shadowside.

Buscando sempre conquistar novos espaços e territórios, percebemos que as pessoas estão cada vez mais se rendendo a música energética e cheia de novidades do quarteto, o que pode ser evidenciado com o “monstruoso” Inner Monster Out, lançado no fim de 2011 e que foi presença constante na lista de melhores trabalhos do ano que se passou.

Nesta entrevista com a frontwoman Dani Nolden, a moça mostra que esse talento e reconhecimento não vem apenas de sua música, e sim por serem pessoas bem articuladas e sabem muito bem quais e como os próximos passos devem ser dados!

Confiram a entrevista!

NEW HORIZONS ZINE: Olá Dani! É muito bom entrevistá-la novamente. Vou começar perguntando o porquê vocês optaram por gravar o disco no exterior?
Dani Nolden: Obrigada pelo espaço! Nosso produtor Fredrik Nordström é sueco e tem seu próprio estúdio em Gotemburgo. O preço que eles nos cobrou pelo trabalho dele como produtor, o uso do estúdio 24 horas por dia, 7 dias por semana e nossa hospedagem por lá acabou saindo algo mais barato que somente o preço de um estúdio do mesmo nível em São Paulo, por exemplo. Com a diferença que lá tínhamos não somente o Fredrik, mas seu assistente Henrik Udd e eles são duas pessoas muito experientes em Rock e Metal. E às vezes você precisa se isolar completamente de tudo pra se concentrar em um bom álbum. Eu sempre achei muito estressante gravar em São Paulo, pois moro em Santos... nunca foi longe o suficiente, nem tivemos verba suficiente pra justificar que eu ficasse em um hotel em São Paulo durante a gravação, então todos os dias tinha que enfrentar 3, 4 horas de viagem para gravar e voltar pra casa. Isso não é bom, depois de 3 horas você já está cansando e começa a deixar passar erros que você normalmente nem cometeria. Lá na Suécia, estávamos longe de tudo e de todos. Longe de qualquer preocupação, longe das nossas vidas. Não tínhamos vontade nem de sair em Gotemburgo, pois estava frio demais e estávamos em uma área industrial, longe da parte turística da cidade. E estávamos morando no estúdio, literalmente. Tínhamos camas, chuveiro, cozinha e o videogame pra quem não estava gravando (risos). Nossa distração era fazer e gravar música, melhorar ainda mais os arranjos, ter tempo para experimentar durante a noite e ter nosso produtor chegando pela manhã para escutar nossas ideias e nos ajudar a decidir qual era a melhor. Na verdade, o estúdio lá não tem qualquer coisa que bons estúdios no Brasil não tenham. O que fez a diferença foi nossa concentração e isolamento, e a mão do produtor e do assistente. Nada nos impede de gravar no Brasil novamente no futuro, mas eu acho que não abriria mão de continuar gravando dessa forma... acordando, tomando meu café e indo gravar na sala ao lado. Foi como gravar no quarto da minha casa, extremamente confortável e nunca rendi tanto como cantora.

NHZ: Inner Monster Out apesar do pouco tempo de lançamento foi considerado um dos melhores trabalhos de 2011 por muitas revistas e sites mundo afora. Como é sentir esse gostinho de que todo esforço para a concepção do trabalho está sendo recompensado?
Dani: É maravilhoso, especialmente quando a banda toda considera esse álbum tão especial! Estamos todos muito orgulhosos dele... é um álbum que agradou a todos os membros, ninguém saiu insatisfeito, nem se sentiu desvalorizado, sem ter suas ideias levadas em conta. Fizemos esse disco como banda, completamente como um grupo, onde nenhuma das ideias iniciais que levamos permaneceu igual, modificamos tudo pra chegarmos a algo que todos nós gostávamos. Pessoalmente, era o que eu buscava desde que comecei a cantar em bandas. Um som pesado, moderno, sem perder as raízes, que passeia por subgêneros sem se perder, Metal sem rótulos, melódico sem deixar a pegada de lado. Quando terminamos, todos nós estávamos muito realizados e mesmo que ninguém gostasse, estaríamos felizes e com a sensação de dever cumprido... porém é claro que quando o público e a imprensa gostam tanto de algo que fizemos com tanto carinho e tanto prazer, a sensação é ainda melhor. O público nos mostra que buscar nossa identidade e fazer algo com o coração valeu a pena.

NHZ: Em Inner Monster Out se percebe logo nos primeiros minutos que as músicas estão mais técnicas, pesadas, modernas e vibrantes, mas sem perder a sonoridade própria criada em Dare To Dream. Bons exemplos são a abertura de Gag Order e In The Name Of Love, e na audição percebemos o salto de qualidade da banda como instrumentistas. Passados estes 10 anos de banda, o que os motivam a aprimorar outros idiomas, aprender novas técnicas de seus instrumentos ou mesmo outras formas de impostar a voz?
Dani: Não penso que a banda tem dez anos de carreira. Contamos o inicio da Shadowside oficialmente a partir de 2006, quando lançamos o "Theatre of Shadows". Eu sinceramente não percebo essas diferenças de impostação (risos). É que eu considero evoluir algo natural pra qualquer músico que fique ativo e sempre buscando seu melhor. As músicas são um pouco mais técnicas, mas não porque aprendemos a tocar e cantar melhor, nós apenas ficamos mais confiantes. Antigamente, nós tínhamos produtores que pareciam ter como fala decorada a frase “demais, faça menos”. Passamos anos escutando isso, que os arranjos estavam excessivos, especialmente na bateria. Então não é que o Fabio não sabia tocar como ele toca no "Inner Monster Out", o fato é que nunca o deixaram tocar o que ele mostrou no "Inner Monster Out" e o mesmo vale para o Raphael. Sempre tentaram nos induzir a fazer algo mais simples, mas nesse álbum nós decidimos que não teríamos medo de nada. Nosso objetivo era fazer música simples e direta, sim... mas música simples não significa que precisamos nos limitar como músicos. Então seguimos nossa personalidade e a identidade da banda apareceu, identidade que já estava lutando para aparecer como você percebeu no "Dare to Dream". De qualquer forma, nós sempre vamos buscar o melhor em nossos instrumentos. O músico que para de evoluir vai ser superado mais cedo ou mais tarde. Sempre tem alguém mais novo que você, treinando duas vezes mais que você, que vai tomar seu lugar se você ficar com preguiça e achando que é o melhor do mundo. O melhor do mundo não existe. Sempre tem alguém que faz alguma coisa melhor que você e meu objetivo é me superar sempre. Eu gosto de surpreender. Não quero chegar no próximo álbum cantando o que cantei no "Inner Monster Out". Hoje pode ser impressionante, mas mais um álbum assim e eu terei parado no tempo, deixarei de chocar positivamente as pessoas.

NHZ: Outro destaque é a versão que fizeram para Inútil do Ultraje a Rigor, onde o próprio Roger participa dividindo os vocais com a Dani Nolden. Como surgiu a idéia de fazer essa regravação e o que acham do trabalho não apenas do Ultraje, mas de outras bandas de Rock nacional?
Dani: Nós somos fãs do Ultraje a Rigor! Essa música em especial foi escrita nos anos 80, mas ainda é atual. Parece que está descrevendo o Brasil de agora, o que me faz perguntar se algum dia as coisas vão mudar. Eu queria muito gravar uma música em português nesse álbum, mas nunca escrevi letras em português na vida. Como eu tinha todas as outras letras para fazer e precisaria de tempo para experimentar com português, começamos a abandonar a ideia até que pensar em gravar Inútil. Pedimos autorização ao Roger, ele aceitou e então durante a gravação perguntamos se ele gostaria de participar. Ele pediu para ouvir quando estivesse pronto e então aceitou. Ele dá o toque especial que a música precisa, aquele toque irreverente, bem brasileiro. Tem muita coisa legal no Rock Nacional, mas Ultraje a Rigor é a banda que mais gosto, é a única que realmente acompanho e compro os discos. Eles tem atitude e eu sou uma grande fã deles.

NHZ: Na composição dos seus álbuns, vocês procuram ouvir coisas diferentes ou mesmo ficam sem ouvir nenhum tipo de música para que as canções não sofram "interferências"?
Dani: Não nos preocupamos muito com isso, até porque é impossível que um músico não seja influenciado por alguma coisa. Acho que influência não atrapalha, a menos que ela seja tão grande que você passe a copiar ou querer usar uma ou duas bandas como referência de qualidade. Nós ouvimos o que temos vontade, o que costumamos ouvir e isso costuma ser uma playlist bem bizarra que vai de Slayer a Duran Duran e chega a passar por Lily Allen (risos). Mas também temos gostos bem distintos dentro da banda, Fabio gosta muito de Slayer, Raphael gosta de Pantera, eu gosto de Rammstein, Queen e Judas Priest, mas escutamos muito pop oitentista também. Mesmo se não escutássemos essas coisas durante a composição, nós crescemos escutando tudo isso e acredito que isso já afetou a forma como nós tocamos e fazemos música. Se deixássemos de escutar, apenas ficaríamos deprimidos e não faríamos uma música que prestasse (risos).

NHZ: Nessa fase de transição da música em geral, onde as gravadoras estão definitivamente lançando músicas apenas no formato virtual, qual a motivação de vocês em sempre compor, gravar e lançar um trabalho de qualidade, mesmo que o CD físico já não dá tanto retorno assim. Na opinião de vocês, quanto tempo o CD físico vai durar no segmento Rock/Metal?
Dani: Não acho que o CD físico vai durar muito tempo, talvez mais alguns anos e depois será objeto de colecionador como o vinil. Nossa motivação principal é, e sempre será, o prazer de fazer música. Nós somos artistas, não tem como tirar isso de qualquer um de nós... mesmo se não fosse nosso meio de vida, nós faríamos isso. Precisamos fazer, é algo que você não consegue parar. Todo o resto é consequência. Ganhar dinheiro com isso é consequência. Porém é óbvio que não podemos manter algo apenas pelo prazer, então continuaremos de forma profissional enquanto tivermos retorno suficiente pra isso. Se algum dia ganharmos menos que gastamos, acabaremos com a banda e faremos música como hobby. Eu continuaria compondo, sem dúvida, mas não lançaria mais música. Eu sou perfeccionista e não gostaria de lançar trabalhos mal gravados por falta de verba. Porém não estou reclamando, nossos fãs são muito leais no mundo inteiro. Eles sabem da importância da venda do CD ou da música em formato digital para o artista. Mesmo quando é uma gravadora que está ganhando a maior parte disso. As pessoas nunca podem esquecer de que sem vendas, a gravadora para de investir nas bandas. Sem investimento, a banda some e até a quantidade de shows sofre com isso. Então quando as gravadoras são atacadas, os artistas também são. Artistas já milionários podem não precisar mais das vendas, mas as bandas menores precisam. As pessoas não devem pensar em quem já ganhou dinheiro com música e quem não ganhou, simplesmente devem comprar o que as agrada e o que elas podem gastar, obviamente. Se tem dinheiro apenas para comprar um CD por ano, que comprem um CD por ano. Se não tiver dinheiro para comprar qualquer CD, ajude a sua banda favorita levando seus amigos para o site oficial. Sempre tem alguma forma de retribuir e “pagar” pela música que você está ouvindo. Felizmente nosso público parece entender isso ou gostam muito do que fazemos, pois sempre vendemos muito bem, especialmente em shows. Costumamos vender ao menos um CD ou uma camiseta pra metade do público presente e isso é muita coisa. O que eu penso, é que o público acaba decidindo atualmente quem fica e quem sai do mercado. Eu sou completamente a favor de se escutar um disco antes de decidir se você quer comprá-lo. Antigamente comprávamos um disco por causa de uma música e descobríamos que o resto do álbum era um lixo, agora sabemos exatamente o que estávamos comprando. Porém, eu acho que é direito do artista decidir se vai oferecer a audição de graça antes ou não. Ninguém deveria ter o direito de colocar o álbum de um artista de forma não autorizada na internet. Se o artista vai perder fãs em potencial não permitindo que as pessoas escutem antes... é problema desse artista. Ele tem que ter o direito de escolher.


NHZ: Inner Monster Out foi lançado no Brasil pela Voice Music. O que os levaram a escolher este selo e o que esperam desta nova parceria?
Dani: A Voice Music é uma das melhores gravadoras e distribuidoras de Metal no Brasil. Eles sabem muito bem o que estão fazendo, conseguem atingir muitas lojas importantes em todo o país, então eu fiquei muito contente com a parceria. Sempre quis ter um álbum lançado por eles e acredito que o trabalho com eles ainda seguirá por muito tempo! No exterior, vamos lançar no Japão, China, Hong Kong, Taiwan e Coreia do Sul pela Spiritual Beast, com distribuição da Universal Music, e na Europa e Estados Unidos, com uma gravadora que está muito motivada, com ideias excelentes, a qual vamos anunciar em breve!


NHZ: Falando um pouquinho de shows, quais os planos referentes ao Brasil e exterior?
Dani: Se pudermos, vamos visitar todos os lugares onde já tocamos e acrescentar outros a essa lista! Todo lugar foi muito especial para nós e queremos voltar. Mas gostaríamos muito de igualar os números, pois tocamos muito mais no exterior que no Brasil. Queremos, no mínimo, tocar em todas as regiões do país. Seria ainda melhor se conseguíssemos tocar em todos os Estados, mas essa já é uma ideia ambiciosa demais (risos). Depois de tocarmos onde pudermos aqui, pretendemos sair em uma turnê internacional mais uma vez. Mas sem dúvida 2012 será um ano bem ocupado para a Shadowside.

Metal Open Air
Imagem Extraída do Site
NHZ: Ainda falando em shows, em abril será realizado o Metal Open Air em São Luiz, no Maranhão, numa região sem tradição para mega eventos para o Rock Metal. O que vocês acharam desta idéia de levar essa estrutura para locais mais afastados dos grandes centros?
Dani: Achei a ideia excelente! Nós vamos tocar no Metal Open Air, será maravilhoso fazer parte do maior evento da história do nosso Metal. E por que não em São Luis? Poderia ser em São Paulo, como poderia ser em Salvador, em Manaus, em Porto Alegre... acho que o local é apenas um detalhe. Penso que, pela maioria dos shows ser nas regiões sul e sudeste, acabamos nos acostumando com a ideia de que os maiores shows precisam ser em São Paulo, tomamos isso como regra. Mas não precisa ser em São Paulo, precisa ser no Brasil. Precisa ter Heavy Metal no país inteiro. Precisamos de mais festivais como esse, onde o público vive e respira Metal durante 3 dias, que seja o primeiro de muitos, em vários lugares do Brasil, como é em vários países europeus. E que comece por São Luis...a mais nova ilha do Metal. Estamos extremamente orgulhosos de fazer parte do Metal Open Air e, com certeza, faremos um show bastante explosivo!

NHZ: Passados 10 anos da formação da banda, como é ver que conquistaram coisas que muitas bandas não conseguiram como tocar e gravar no exterior, abrir para bandas renomadas, ter o merecido reconhecimento, o que falta a ser conquistado para vocês?
Dani: Continuar conquistar tudo isso pelos próximos 10 anos (risos). Em uma banda, você precisa matar um leão por dia... nunca pode se acomodar, quando você decide parar um minutinho para descansar, você perde a chance. Mas olhar pra trás e ver o que realizamos é realmente incrível. É a sensação que você tem ao acabar de sair de uma montanha-russa. E você só percebe como foi longe quando para pra pensar mesmo... eu só percebi de verdade o tamanho de tudo que estava acontecendo no final da turnê do Dare to Dream quando estávamos passando som em Helsinque, na Finlândia. Escutei os finlandeses conversando, vi aquela casa de show vazia e enorme na minha frente e pensei: “como estou longe de casa!”. Foi naquele momento que entendi de verdade o que conquistamos, como é difícil chegar onde chegamos, porém... nós chegamos. Começamos como um grupo de adolescentes, com pouca estrutura mas muita vontade e agora... é isso que aconteceu. É possível. Tudo é possível. Precisamos de vários anos trabalhando todos os dias por essa banda, mas nós conseguimos e espero continuar conseguindo.

NHZ: Não sei se vocês assistiram o documentário The Story Of Anvil, mas o documentário mostra entre outras coisas, que não basta ter apenas talento para conseguir o reconhecimento merecido, e sim conhecimento de como funcionam os negócios, além de uma visão empreendedora. Na opinião de vocês acabou esse negócio de que basta plugar os instrumentos e fazer um som para conseguir algo a mais?
Dani: Na verdade, eu penso que nunca existiu esse negócio. Até existem bandas que são completamente inocentes e apenas plugam seus instrumentos, achando que as coisas acontecem de forma mágica, mas essas bandas são raras e com certeza alguém está pensando na parte de negócios por eles. Uma banda precisa saber o que quer, como quer e como chegar lá. E o mais importante é saber de tudo isso pra não ser enganado. Existem muitos tubarões nesse meio, que se aproveitam de talento ingênuo para roubar dinheiro da banda. Sua melhor defesa é saber tudo sobre esse meio, ouvir conselhos de pessoas confiáveis. Nos dias de hoje, saber como conseguir fãs sem a ajuda de uma gravadora é fundamental. Seus fãs vão financiar sua carreira, não a gravadora. Gravadoras atualmente não assinam com bandas que não serão bem-sucedidas sem a ajuda delas. Não basta talento, definitivamente. É claro que sem talento, você pode ter todo o conhecimento e toda a visão empreendedora do mundo que nada vai funcionar...você será um ótimo empresário, mas não uma banda de sucesso. O problema é que apenas talento, também não leva um músico ao sucesso, porque existem muitas bandas talentosas por aí. Todo mundo sempre vai querer trabalhar com aquela que está pronta em todos os sentidos e não tem que ser ensinada ou preparada pra esse mundo.

NHZ: Obrigado pela entrevista! Deixe a mensagem aos leitores do New Horizons Zine!
Dani: Um grande abraço a todos! Espero vê-los em breve na estrada e que curtam bastante o Inner Monster Out, é um disco para bater cabeça e gritar bastante, deixar todos os seus problemas de lado e se divertir! Até logo!

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