30 de novembro de 2012

BLUES RIDERS: “O ROCK PRECISA VOLTAR SER MAIS VISCERAL E MENOS ARTIFICIAL”


Por João Messias Jr.

Quem ouve pela primeira vez o nome Blues Riders, pensa de primeira numa banda de Blues. Só que o trio formado por Sidnei Hares (voz e guitarra), Áureo Alessandri, Álvaro Sobral (baixo) e que estão para anunciar um novo baterista vão muito além disso.

Com dois álbuns lançados, a banda faz um som com nuances do Blues, Hard e Classic Rock, a banda faz uma mistura pesada e visceral, com destaque para os solos bem elaborados, um bom jogo de backing vocals e vozes ardidas!

Nesta entrevista a banda nos falou um pouco da carreira, mudanças de formação e da “pegada” das bandas de rock hoje:

Blues Riders
Foto: Divulgação
NEW HORIZONS ZINE: A banda já lançou dois álbuns: Blues Riders na Cidade Rock (2000) e A Sagrada Seita do Rock’n’ Roll (2009). Como foi a divulgação e aceitação destes trabalhos em relação a público e crítica?
Blues Riders: Somos uma banda independente. Em ambos os discos, bancamos tudo do nosso bolso: gravação, mixagem, masterização, fotógrafo, maquiadores, modelos, prensagem dos CDs em Manaus (ambos tem livretos com todas as letras, diversas fotos, ficha técnica, etc).

Nos orgulhamos de termos feito o máximo que as possibilidades permitiam na época. O público sempre aceitou bem esses trabalhos nos prestigiando nas apresentações ao vivo e comprando nossos discos.

A imprensa especializada em geral sempre nos apoiou e incentivou muito, ainda que nunca tenhamos pautado nosso direcionamento pelo que diz a crítica.

NHZ: Vocês ficaram 15 anos com a mesma formação. O que ocorreu para que houvesse  mudanças de formação? Como chegaram aos novos membros e o que eles trouxeram para a banda?
BR: Não é fácil para banda nenhuma ficar 15 anos com a mesma formação. Quantas bandas nacionais o fizeram? Consideramos os Blues Riders uma banda privilegiada por ter conseguido isso. A primeira formação se comportou, para o bem e para o mal, como uma família.

De forma natural, o tempo a tudo desgasta. A primeira formação se diluiu após um longo processo de 5 anos em que havíamos perdido o entusiasmo e a magia de trabalharmos juntos.

Queríamos continuar adiante e por isso a outra metade da banda que estava desmotivada precisou partir para dar lugar aos novos integrantes que trouxeram de volta o entusiasmo e muita energia. A diferença foi impressionante. Uma experiência muito positiva sem dúvida.

Hoje Blues Riders conta com Sidnei Hares, que está completando 1 ano conosco nos vocais e guitarra e com Áureo Alessandri e Alvaro Sobral, fundadores da banda.
Novidade em primeiríssima mão: Um novo baterista será anunciado antes do final do ano.

O Rock não pára !

A Sagrada Seita do Rock And Roll
Divulgação
NHZ: Apesar do nome, vocês praticam uma mescla do Blues, Hard Rock e Classic Rock. Quais as bandas que influenciam diretamente o som de vocês?
BR: Nos primórdios da banda, em 1994 pra ser mais exato, éramos uma banda de Blues que também tocava Rock eventualmente.
Nosso objetivo sempre foi ser uma banda autoral e conforme as composições surgiam, víamos que naturalmente nos direcionávamos mais para o lado do Rock. Foi surpreendente e ao mesmo tempo inexplicável notar que quando compúnhamos um Blues, não conseguíamos deixar de acrescentar peso.
Decidimos manter o nome da banda pois mesmo tocando Rock, há uma mescla forte com Blues que pode ser percebida em grande parte do nosso trabalho.

Naturalmente tivemos muita influência do Rock inglês e americano dos anos 70, porém nunca quisemos que alguma influência específica ficasse evidente na nossa música.

Se alguém identificar algo nosso que pareça com alguma banda mais antiga, pode ter certeza que não foi intencional.

NHZ: O que vemos hoje são bandas de diversas vertentes do rock se preocupando cada vez mais com a execução, produção de suas canções, tornando o som calmo e chato, esquecendo do principal ingrediente que o estilo tem: energia. Vocês acham que o rock está se tornando cada vez mais erudito e acadêmico?
BR: Não. Ao contrário. O Rock não está acadêmico e nem erudito. Está burocrático e anêmico. Falta energia e atitude.

Há uma profusão de bandas totalmente inofensivas por aí. Você vê shows por aí e no final sai de lá sem nada a mais na bagagem.

Prefiro mil vezes assistir uma banda com atitude no palco e que cometa erros do que bandinhas comportadas tocando tudo com precisão e timbres pasteurizados.

O Rock precisa voltar ser mais visceral e menos artificial. Rock é emoção, não é perfeição.

NHZ: Conheci o som de vocês recentemente quando vocês foram uma das bandas de abertura do Golpe de Estado. Quais os benefícios que tocar antes de um grupo renomado pode trazer?
BR: O grande benefício é o fato de haver um prazer enorme em poder tocar com músicos de altíssimo nível e que, como é o caso do Golpe de Estado, são nossos ídolos de adolescência e grandes amigos.

Sempre que podemos, atendemos ao convite para abrir shows das grandes bandas nacionais que fazem Rock de verdade, pois eles merecem todo o nosso apreço e admiração pelo talento que tem e por nunca terem desistido da batalha.

Blues Riders
Foto: Divulgação
NHZ: Nesta apresentação percebi que os vocais são ardidos, lembrando até a banda gaúcha Rosa Tattooada. Podemos esperar um lado mais Hard em futuros trabalhos?
BR: O Sidnei Hares é quase 20 anos mais jovem do que os fundadores da banda. Ele trouxe técnicas e influências de outra geração e aportou com um talento enorme.

Estamos orgulhosos por trabalhar com ele, que é uma pessoa para quem música é um assunto muito sério.

Certamente o nosso novo trabalho, que está em desenvolvimento, contará com ingredientes diferentes, com novos sabores que deixarão nosso Rock’n’Roll ainda mais bacana de se curtir. Impossível dizer se estará mais Hard, mais Southern, mais Heavy ou mais Blues.

NHZ: Falando em futuros trabalhos, vocês já têm planos para um novo trabalho de inéditas?
BR: A fase de composição preliminar já começou. Todos já temos várias demos gravadas com rascunhos de músicas. Temos muito material e a próxima fase será analisarmos o material que cada um tem e começar a arranjar tudo.
O processo só não avançou mais porque 2012 foi o ano em que mais tocamos na história da banda e acabamos ficando com tempo curto.

NHZ: O que acham de bandas como Baranga e Carro Bomba, que conseguiram se destacar na cena cantando no idioma pátrio?
BR: São EXCELENTES bandas nacionais! Além da qualidade que apresentam, essas bandas merecem todo o crédito por fazer Rock cantado no nosso idioma. Essa é a forma mais legítima, senão a única, de caracterizar o Rock brasileiro: Cantá-lo no nosso idioma.

O Rock brasileiro, em seus primórdios, foi cantado em português. Com o tempo, e devido ao sucesso que o Sepultura alcançou no exterior, criou-se um séquito de bandas achando que Rock tem que ser obrigatoriamente cantado em inglês para ser bom.

Uma visão colonialista e limitada que só fez contribuir com a decadência do estilo no mercado brasileiro, entregando-o de bandeja a estilos ridículos como funk, sertanejo e pagode.

Na Argentina,  por exemplo, a maioria esmagadora das bandas de Rock cantam em castelhano com extrema qualidade e cativam o mercado argentino de Rock, que é hoje muito mais forte do que o mercado brasileiro.

Blues Riders
Foto: João Messias Jr.
NHZ: Qual a opinião de vocês em relação a casas de shows em São Paulo? Os espaços oferecem condições dignas para que as bandas possam executar seu som?
BR: O problema não é o espaço e nem a estrutura. O problema é a forma de pensar. Existem sim lugares fantásticos pra se tocar e pra curtir um som que são dirigidos por gente idealista e consciente do que é arte. Esse ano de 2012 foi especial pra nós pois tivemos a oportunidade de trabalhar com gente muito bacana.

Porém existem também os lugares que tem boa estrutura mas que são dirigidos por gente com mentalidade convictamente terceiromundista.

Há diversos donos de casas cujo objetivo máximo de vida é vender cerveja e cuja missão se restringe unicamente a isso. Contratam bandas de garotos que tem guitarras de madeirite pra tocar covers carne-de-vaca a noite toda em troca de cerveja.

Conceito? Arte? Qualidade? Nada disso lhes diz respeito e isso é um tremendo desserviço ao cenário rockeiro do país.

NHZ: Obrigado pela entrevista! Deixem uma mensagem aos leitores desta publicação.
BR: Nós estamos na estrada há 18 anos. Talvez seja teimosia, talvez idealismo. Pode ser também a nossa obsessão pelo impossível, o nosso amor pela miragem, um talento inato para o labirinto.

Nos caracteriza uma dureza de espírito típica dos que não se abatem, dos que insistem, dos que tem a coragem para o proibido... Aquela predileção pelo entusiasmo e pela integridade.
Nossa obra é para poucos pois só o depois de amanhã nos pertence. Alguns já nascem póstumos.

Nós somos os Blues Riders. NEVER STOP ROCKIN' !!!

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