18 de dezembro de 2013

HELLISH WAR: “A VIDA DE UMA BANDA NA ESTRADA NÃO É FÁCIL, É PRECISO TER MUITA RESISTÊNCIA E OS PÉS NO CHÃO”

A frase acima, dita pelo baterista da banda Hellish War, Daniel Person reflete bem não apenas a banda na estrada, mas durante todo o período em que ela estiver no underground. Inúmeros motivos como mudança de integrantes, calotes de promotores, empresários, pressão da família são alguns fatores que podem determinar a vida de um grupo, pois é sabido que o metal aqui no Brasil, infelizmente não é algo rentável para a maioria das bandas.

Só que contrariando essas estimativas, o quinteto vem conquistando gradativamente o merecido sucesso. Retornando de mais uma bem sucedida tour pela Europa, Bil Martins (voz), Vulcano e Daniel Job (guitarras), JR (baixo) e o já citado Daniel Person (bateria) colhem a excelente repercussão que o recém lançado álbum, Keep it Hellish vem obtendo entre bangers e crítica especializada.

O referido trabalho, apesar de manter o estilo característico da banda, graças ao trabalho de Bil, aponta novos caminhos para o quinteto.

Nesta entrevista feita com Daniel Job, Daniel Person e Bil, eles nos contam do novo disco, da estreia do cantor em estúdio e ao vivo, a vida de uma banda na estrada e muito mais.

Confiram!

Por João Messias Jr.

Keep it Hellish
Divulgação
NEW HORIZONS ZINE: Amigos, em nossa última conversa, no final de 2012, vocês haviam confirmado a entrada de Bil Martins como o novo vocalista da banda. Nesse ano, vocês lançaram o tão aguardado álbum, Keep It Hellish. Como foi ver essa etapa vencida?
Daniel Job: É sempre muito gratificante ter em mãos um disco finalizado, pois é nesse momento que você percebe o fim de um longo e trabalhoso processo e tem a sensação de “missão cumprida”. Mas ver esse disco pronto, especialmente, foi mais gratificante do que o normal, pois não significou apenas o final de mais um trabalho, mas também o final de uma fase muito difícil pela qual passamos, que foi a busca do vocalista certo para gravar esse disco. Ver essa etapa vencida nos fortaleceu em muitos aspectos.

NEW HORIZONS ZINE: Á exceção do cantor, o grupo mantém a mesma formação há algum tempo. Como foi a experiência de trazer uma nova pessoa ao grupo num ambiente que já estava estabilizado?
Job: Do meu ponto de vista foi bem fácil e tranqüila a integração do Bil na banda. Primeiro por ele já ser um músico experiente e talentoso e segundo por ser um cara muito legal e fácil de lidar. Ficamos muito satisfeitos com todo o empenho dele e com o resultado final do seu trabalho. Ele era o cara que estávamos procurando e isso facilitou muito a sua integração na banda.

NHZ: Essa questão eu queria que o próprio Bil nos respondesse: como foi entrar na banda com um repertório fechado? Em estúdio, você chegou a alterar algumas linhas vocais?
Bil Martins: Mesmo com tudo quase pronto foi difícil. Tive que tirar as nove músicas que estavam prontas, alterei algumas partes e acrescentei outras. Tive liberdade pra interpretar do meu jeito, desde que não descaracterizasse a identidade da banda. A única linha vocal que criei sozinho foi a de Phantom Ship, nessa eu também pude colaborar na letra junto com o JR.

Hellish War 2013
Divulgação
NHZ: A audição de Keep it Hellish acaba gerando uma agradável surpresa. Além de terem consolidado seu estilo, apresenta grande performance de todos os músicos. Houve algum tipo de preparação ou mesmo aulas particulares para a concepção do novo disco?
Job: Eu estou sempre tocando e buscando aprender coisas novas, com isso acabo me aprimorando tecnicamente. Além disso, acho que a empolgação para gravar as novas composições também teve grande influência na minha performance.

NHZ: Os duetos de guitarras estão mais soltos e na música Scars (Underneath your Skin) as seis cordas apresentam solos fora do padrão do estilo. Houve alguma banda em especial que inspiraram essas passagens da canção?
Job: Não, acho que isso acontece naturalmente após quinze anos tocando juntos (risos)!

NHZ: Outra sacada foi em Darkness Ride, que começa com um dedilhado a lá Blackmore’s Night e descamba para um hard/heavy empolgante. Devida a variedade de estilos, podemos dizer que essa canção “deu trabalho para ser criada?
Daniel Person: Darkness Ride foi uma música que o Daniel Job trouxe pronta para a banda, e a versão que pode ser ouvida no CD é praticamente idêntica à idéia original que ele nos trouxe, com exceção de alguns poucos detalhes. Eu inclusive gostei muito das idéias de batera que ele trouxe nessa música, e incluí pouquíssimas mudanças quando fui gravar o som no estúdio. Na batera, a única alteração relevante que fiz nessa música foi incluir a levada nos surdos que pode ser ouvida junto com as primeiras estrofes, quando o vocal entra na música, além de uma ou outra virada.

Job: Essa música foi composta em um momento de inspiração e já saiu praticamente pronta, mas devo dizer que devido a todos os seus detalhes o processo de gravação foi bem trabalhoso.

NHZ: Os vocais de Bil além de combinarem com o estilo da banda, trazem
Hellish War 2013
Divulgação
algo novo, como toques hard, que nos remetem a cantores consagrados como Jeff Scott Soto e Rob Rock (Impelliteri). O que acham da comparação e o que acham desses vocalistas?

Job: Acho que comparar o Bil com vocalistas desse porte seja um grande elogio. Gosto muito do Jeff Scott Soto e sou muito fã do seu trabalho com Yngwie Malmsteen.

Person: Gosto bastante dos vocalistas que você mencionou também, especialmente por serem bastante versáteis e terem um “drive” na voz que me agrada muito. Concordo com a sua comparação!


NHZ: A faixa que dá nome ao disco soa matadora e deve ser perfeita para abrir os shows da banda. Vocês iniciam as apresentações com ela?
Job:
Fizemos isso algumas vezes, mas por ser uma música rápida o som tem que estar muito bem regulado para que soe legal. Muitas vezes a primeira música acaba sendo usada para dar uma “ajustada” geral no som e acaba sendo prejudicada. Então resolvemos deixar essa música para um momento em que o som já esteja “redondo”.

Person: A resposta do público a esse som durante os nossos shows tem sido muito legal. “Keep it Hellish” tem um refrão muito forte e fácil de se assimilar, o que faz com que seja uma música muito boa pra se tocar ao vivo. Considerando o retorno que temos do público nos shows, provavelmente é um som que nunca mais sairá do set list da banda.

Hellish War 2013
Divulgação
NHZ: A capa do álbum, graças a cor verde nos remete aos Keepers do Helloween. Vocês tem algum receio de serem confundidos com bandas de metal melódico/sinfônico?
Job: Não, acho que nosso estilo e identidade já estão bem definidos.

Person: Também acho que não, mas concordo com a comparação aos Keepers. Não havíamos pensado nisso durante o processo de criação da capa, mas o importante é que a arte ficou exatamente da forma como gostaríamos. Diferentemente de muitas artes que vemos hoje em dia, a capa de “Keep it Hellish” é uma pintura feita à mão pelo artista Eduardo Burato, tendo sido apenas finalizada digitalmente pelo Robson Piccin, outro artista extremamente talentoso. Em minha opinião, é a capa mais bonita do Hellish War até hoje.

NHZ: Neste mês de outubro a banda partiu para alguns shows pela Europa. Como foram as apresentações e quais as diferenças estruturais em relação ao último giro pelo velho mundo?
Person: Os shows nesta segunda tour pela Europa foram muito bons, tudo correu conforme planejado, e tivemos a oportunidade de rever velhos amigos e agregar novos fãs ao público do Hellish War por lá. Uma diferença entre a primeira e a segunda tour foi que desta vez tocamos em países onde nunca havíamos estado antes, como França, Holanda e Polônia. E já estamos planejando nosso próximo giro por lá, que acontecerá em 2015.

NHZ: Essa questão eu sempre pergunto aos grupos que vão para o
Cartaz de show na França
Divulgação
exterior. Para os que pensam que os músicos andam de limousine e recebem um milhão de toalhas brancas, conte-nos como é a vida dos músicos de uma banda underground na estrada em relação a transporte, alimentação e hospedagem?
Person: Você tem razão, a época da limousine já passou (risos)! A vida de uma banda na estrada não é fácil; é preciso ter muita resistência e os pés no chão. Pois em uma tour podem acontecer diversos imprevistos, além de estar preparado para se adaptar a situações que nos colocam fora da nossa zona de conforto. Felizmente, não passamos por nenhuma situação muito complicada em nossa tour, e acho que o grande segredo para isso é ter um planejamento muito bem feito, tendo tudo organizado com pelo menos 12 meses de antecedência.

NHZ: Vocês pensam em fazer algo semelhante na América do Sul e Estados Unidos?
Person: Em 2014 optaremos por focar nossos esforços na divulgação do Keep it Hellish no Brasil e, se possível, na America do Sul como um todo também. Sabemos que temos um público grande na Colômbia e Peru, pois frequentemente recebemos mensagens de fãs destes países, em nossa página no Facebook. Diria que a probabilidade de tocarmos pela America do Sul seja maior do que nos Estados Unidos, embora a banda esteja definitivamente aberta a quaisquer convites.

NHZ: Mudando de assunto, após lançarem o trabalho anterior, Heroes of Tomorrow de forma independente, Keep It Hellish saiu pela Voice Music. O que os motivaram a lançar o trabalho por eles e o que esperam em termos de divulgação?
Person: A Voice Music é uma gravadora séria e com uma ótima distribuição. Estes foram os principais pontos que nos levaram a trabalhar com eles. Hoje, nosso novo álbum pode ser encontrado com facilidade em grandes megastores, como Saraiva e Livraria Cultura. Assim, através da Voice, conseguimos levar nosso álbum a um público ainda maior. Com relação à divulgação, trabalhamos com a assessoria Som do Darma já há 5 anos, é uma parceria que deu certo e estamos muito satisfeitos com os resultados que já estamos colhendo com este novo álbum.

Cartaz de show na Polônia
Divulgação
NHZ: Hoje o metal nacional vive um momento de transição. Se por um lado têm surgido grandes nomes na cena underground, que além da competência musical, conseguem lançar trabalhos com um bom trabalho gráfico e sonoro. Mas em contrapartida, muitos eventos acontecem de forma simultânea, que somado ao excesso de apresentações internacionais, acabam tendo pouquíssimo público. Com todos os anos de estrada que possuem, o que acham que pode ser feito?
Person: A internet foi algo que definitivamente influenciou na mudança do cenário musical como um todo. Hoje em dia, está muito fácil conseguir qualquer tipo de informação. Talvez isto tenha contribuído para a redução do circuito de shows, pois algumas pessoas de repente podem achar que a experiência de se ver uma banda através de um vídeo no YouTube, por exemplo, substitua a experiência de se ver um show ao vivo - o que com certeza não é verdade. 

Além disso, eventos mal organizados acabam afastando o público das casas de shows também – o fatídico Metal Open Air, por exemplo, com certeza traumatizou muita gente. Acho que neste ano tivemos também grandes eventos e que foram bem organizados, como o Rock in Rio e o Monsters of Rock. Acho que a presença mais freqüente dos grandes festivais pode ajudar a influenciar com que o público headbanger cresça e se renove, o que automaticamente fará com que o cenário underground se movimente cada vez mais também. Além disso, é importante que os promotores de shows no underground sempre busquem tratar seu público com respeito também, para que os presentes curtam estar ali e continuem prestigiando futuros eventos.

NHZ: Obrigado pela entrevista. Deixem uma mensagem aos leitores desta publicação.
Person: Muito obrigado pela oportunidade de conversar com vocês. Convidamos todos a curtirem a página do Hellish War no Facebook. E espero que todos vocês tenham a oportunidade de ouvir nosso novo álbum! Nos empenhamos muito para fazer o melhor álbum de nossa carreira. Para quem ainda não ouviu, disponibilizamos algumas faixas em nosso soundcloud. Heavy Metal Forever - Keep It Hellish!

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