28 de dezembro de 2015

DANDO A CARA PRA BATER

Atual formação trilha novos caminhos em Bringer of Terror

Por João Messias Jr.

Bringer of Terror
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"Ninguém no mundo vai nos aplaudir se fizermos as coisas da forma mais simples, ninguém no mundo vai nos aplaudir se fizermos as coisas do jeito errado. E a única forma de agir que acreditamos é ir sempre em frente, isso é uma necessidade para nós". 

Cá entre nós, você pode até não ser um fã do Ghost, mas a frase acima dita por um dos seus Nameless Ghouls em uma entrevista para a Roadie Crew, além de uma sinceridade ímpar, é dona de grande valor artístico, pois fala em acreditar no que faz, sem saber de convenções ou algo do gênero.

Além disso, define perfeitamente a atual fase do hoje trio de death/thrash Azorrague. Contando hoje com Fernando Frogel (baixo e voz), Roney Lopes (guitarra) e Macarrão (bateria e voz), os caras foram corajosos e fizeram um álbum bem diferente de seu debut, Die With Us lançado em 2012.

Essa "discrepância musical" é apontada logo de cara em Bloody Hands. Apesar de furiosa, ela mostra que a atual formação pensa muito além. A audição revela uma preocupação com a dinâmica das canções, o que nesse caso foi uma decisão acertada.

Já a faixa que nomeia o trabalho, Bringer of Terror tem guitarras com um jeitão Flórida de fazer death metal, porém aposta na cadência e vem acompanhada de solos bem sacados, enquanto A Voodoo Journey é pesadona, pra bater cabeça.

Porém é For All I Believe é que dividirá opiniões. A canção aposta em vocais e instrumental mais grooveado e vocais femininos que fogem do padrão, a cargo de Cecília Neufeld, que soa próximo das trilhas de animes. Se tiver mente aberta, descobrirá algo improvável e inusitado, se for fã apenas do som "casca grossa", terá uma grande decepção.

Com suporte de uma produção competente a cargo de Karim Serri (Doomsday Hymn, ex-Seven Angels) e uma capa que impõe respeito são mais alguns atrativos que fazem de Bringer of Terror uma opção aos fãs de música pesada atentos por novidades e que não se prendem a fórmulas e receitinhas de bolo.

10 de dezembro de 2015

A PREOCUPAÇÃO COM AS MELODIAS E ARRANJOS VOCAIS

Cada uma em sua praia, as bandas Radiolaria e S.E.T.I. mostram que o cuidado ao conceber músicas agradáveis aos ouvidos, faz com que se diferenciem da multidão

Por João Messias Jr.

Não tem jeito. Com tanta coisa sendo lançada no mercado independente (algumas com gosto duvidoso), o lance é caprichar no material. Seja nas músicas, produção, capa e encarte e o mais importante: buscar um detalhe que torna o seu trabalho diferente da concorrência.

E nessa corrida extremamente competitiva e algumas vezes cruel, encontramos dois lançamentos, que embora possuam estilos distintos, cativam pelos mesmos motivos: o cuidado com as melodias e as harmonias vocais dos grupos Radiolaria e S.E.T.I.

Vermelho
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Oriundo de Minas Gerais, o Radiolaria tem como grande mérito equilibrar nuances de estilos diversos, como o  classic rock, folk e uma inspiração estelar por grupos como Clube da Esquina, fazendo com que sua música agrade fãs que variam desde Cream, Sting, Skank e Bob Dylan, o que vamos combinar não é para qualquer um.

Felipe Barros (voz e guitarra), Felipe Xavier (voz e violão), Wagner Costa (baixo) e Pedro Rios (teclado, que foi oficializado após o lançamento) fizeram de Vermelho, debut lançado em 2014 um trabalho de fácil audição, de ponta a ponta (por algumas vezes seguidas) graças as melodias grudentas e as harmonias vocais equilibradas. Alguns casos ficam por conta de Pedaço de Papel, Cavaleiro Errante, a introspectiva Tango, a grudenta As Palavras são bons exemplos do poder de fogo da música dos caras. Embora o maior destaque seja Devaneio, cujo início soa como uma prosa, ganha um final de tirar o fôlego.

Outro atrativo fica no simples, porém bonito acabamento em digipack, que faz com que o fã queira tê-lo em sua coleção.

Extase
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Numa linha mais voltada ao synthpop, o duo S.E.T.I. consegue prender o ouvinte com um ritmo denso e melancólico, cujas batidas eletrônicas criam um contraste interessante. Roberta Artiolli (voz, synths) e Bruno Romani (baixo e programação) fogem do esquema 'baticum', se concentrando nas melodias e harmonias, fazendo um mix de grupos como Chemical Brothers, Radiohead e Tears For Fears.

Seu novo trabalho, o EP Extase destaca pela linearidade e pelos vocais doces de Roberta, que faz com que canções como A Arte da Guerra grudem na cuca de imediato. Outros destaques ficam por conta do clima alternativo de Gravidade Zero, a melancólica Dias Mudos e Benjamim. Esta, o ponto alto do trabalho, com jeitão de hit, além de ser um tributo ao guitarrista Benjamin Curtis (School of Seven Bells), que nos deixou em 2013.

Competentes, bem produzidos e com um bom trabalho de capa/encarte. Duas bandas que com certeza, se tiverem a ajuda do público, podem alçar vôos bem mais altos.

8 de dezembro de 2015

BRUTAL, REFINADO E CANDIDATO A MELHORES DO ANO

"Seasons of Red", novo trabalho do Chaos Synopsis surpreende por apresentar contornos mais trabalhados e inusitados

Por João Messias Jr.

Seasons of Red
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Quando uma banda prepara o terceiro trabalho, é normal que cresçam as expectativas, principalmente aos fãs que sabem que é este que mostra se a banda tem gás para uma carreira longínqua ou começa a apontar que o fim da linha está chegando.

No caso do Chaos Synopsis, o lançamento de seu terceiro álbum de estúdio, Seasons of Red mostra que o quarteto hoje formado por Jairo Vaz (voz e baixo), JP (guitarra), Luiz Ferrari (guitarra) e Friggi Mad Beats (bateria) mostra que tem muito a mostrar. Principalmente pelas sutis mudanças adotadas aqui. 

Para o fã que começa a ler a resenha já adianto que os caras não adotaram passagens a lá como Korn e Pink Floyd, apenas alguns diferenciais que o torna (bem) superior ao trabalho anterior, o ótimo Art of Killing.

Diferenças que ouvimos logo de cara na primeira faixa, Burn Like Hell, graças aos seus climas flamencos/orientais (alguns lembrarão de Spanish Blood do Leviaethan) , que a deixa marcante e nos faz querer saber o que vem pela frente. As guitarras de JP e Luiz Ferrari se sobressaem em The Scourge of God e Brave New Gold, com melodias que esbarram no metal tradicional. Claro que aquela banda brutal e fanfarrona mostra que não esqueceu suas origens. Incident 228 é um desses casos, apesar das sutis diferenças no vocal de Jairo, o que aqui é positivo.

Four Corners of the World encerra em grande estilo. O começo com guitarras trabalhadas logo deixa a cena, alternando climas brutais e outros voltados ao rock and roll puro e simples. Ainda falando dessa faixa, ela conta com a participação do guitarrista Ítalo Junqueira, que chegou a fazer alguns shows com o grupo.

O conjunto da obra está sacramentado em uma bela embalagem em slipcase, capa assinada por Rafael Tavares e uma boa gravação, que contou com a produção de Friggi e masterização no Abosolute Master. Pontos que unidos farão que o nome do grupo cresça cada vez mais. Cujo primeiro passo será vê-lo (com todo mérito) nas listas de melhores do ano.

1 de dezembro de 2015

SONHADORES DA CENA EXTREMA

Nova edição do festival Ataque Extremo contou com as bandas Reffugo, Justabeli, Blackning e Chemical Disaster

Texto: João Messias Jr.
Fotos: Patricia Amorim Flavera

Muitos chamam de sonhadores, outros de loucos e poucos de vagabundos, mas a verdade é uma só, que nunca foi e nunca será fácil apoiar/montar um evento destinado ao metal no Brasil, salvo algumas exceções.

Assim podemos falar do “Ataque Extremo”, que há anos dedica um espaço para bandas desse segmento aqui no ABC paulista e nessa atual edição, realizada no dia 3 de outubro, trouxe aos presentes o melhor do submundo extremo, com as bandas Reffugo, Justabeli, Blackning, Bloody Violence e os santistas do Chemical Disaster.

Inicialmente no Cidadão do Mundo, atualmente o evento acontece na Troppo, localizada no centro de São Caetano do Sul, que apesar de bem diferente da primeira casa, mantém o charme e as características para receber eventos do estilo.

Justabeli
Patricia Amorim Flavera
Por motivos logísticos acabei perdendo o show do pessoal do Reffugo, uma pena. Já se passavam das 23h30 quando o Justabeli iniciou seu set. Com uma nova formação, que além de War Feres (voz e baixo) hoje é composto por Julio Blasphemer (guitarra) e Morbus Deimos (bateria) deram continuidade na divulgação de seu novo trabalho, o álbum Cause the War Never Ends.

Os destaques ficaram por conta de Die In the War, a técnica Infected By Radiation e os ótimos solos de Divine Fall, numa ótima apresentação, que foi marcada pela coesão, além de evidenciar que a atual formação vai muito bem obrigado.

Blackning
Patricia Amorim Flavera
Do death/black rumamos ao thrash com o Blackning. E para quem ainda não conhece o trio formado por Cleber Orsioli (guitarra e voz), Francisco Stanich Jr. (baixo e voz) e Hellvis Santos (bateria) está perdendo tempo, ainda mais se for fã do thrash brazuca praticado nos anos 90 (Sepultura, Overdose, Korzus). 

Em um set curtíssimo, mandaram músicas do debut, Order of Chaos, de 2014 que teve como pontos altos The Will Be Done, Death Row e Unleash Your Hell. Vale citar que além da pegada ‘brazilis’, o que chama a atenção é o groove inserido nas canções, que as deixam especiais, além de diferenciar o grupo de outros do mesmo estilo.

Já eram mais de 1h40 da madruga e o death metal retornava com a gauchada do Bloody Violence. Voltando de um giro na Europa, o trio formado a época por Israel Savaris (baixo e voz), Igor Dornelles (guitarra) e Eduardo Polidori (bateria) vai na vertente mais técnica e brutal do estilo, com destaque para as linhas de baixo e o uso da guitarra de oito cordas, cujas texturas são um atrativo a mais nas canções, como pudemos ouvir em Mother of the Dying, Colares UFO Clap e Born to Squirm. Ótima banda, cujo debut Divine Vermifuge merece um lugar na CDteca dos admiradores de música extrema!

Chemical Disaster
Patricia Amorim Flavera
Encerrando a noite tivemos os veteranos santistas da Chemical Disaster. Luiz Carlos (voz, Vulcano), Fernando Nonath (guitarra), Ricardo Lima (guitarra), Carlos Diaz (baixo) e Juca Lopes (bateria) agradaram em cheio os presentes com seu death metaal old school. 

Tudo permeado por um clima de descontração, como se fosse um encontro entre amigos, que respondiam batendo a cabeça em sons como When the Man Loses Fate, Soulsick, Canibalistic Greed e numa visceral versão para Black Metal (Venom). Seco, letal e mortífero, como um show de death metal deve ser!

Nem tudo foram flores

Esse é o ponto chato desse texto. Embora a noite tenha sido agradável, com ótimas apresentações de todos os grupos, nem tudo foi 100% nessa noite. Apesar do som não estar as mil maravilhas (o que gerou a insatisfação do pessoal do Bloody Violence), o que é triste ver é o pouco público em eventos destinados ao metal no ABC.

O que faz vir a mente o seguinte questionamento...pra que bolar iniciativas destinadas ao estilo já que as pessoas preferem ficar em casa ou ouvindo as mesmas músicas que fizeram sucesso há 30, 40 anos atrás?

Assim, não há sonho ou ideal que resista a tanta falta de interesse (ou burrice)?


23 de novembro de 2015

UM OLHAR CONTEMPORÂNEO AO THRASH

Quarteto aposta em dissonâncias, groove e peso em seu disco de estreia

Por João Messias Jr.

Leader's Speech
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Desde o início década de 1990, o guitarrista/vocalista Baffo Neto procurava dar uma cara diferente em seus projetos musicais. Desde o thrash explosivo do No Return ao new metal do Retturn, que renderam ao músico reconhecimento dentro e fora do país, algo que não se podia acusar o músico era de comodismo e acomodação de fazer o mais do mesmo.

Pois bem, passados todos esses anos, agora com um novo grupo, que atende o nome de Capadócia e acompanhado por Marcio Garcia (guitarra, ex-Postwar), Gustavo Tognetti (baixo, ex-Skin Culture) e Palmer De Maria (bateria, ex-Return) lançam seu primeiro álbum, batizado de Leader's Speech.

Apesar da aposta no peso, dissonância e grooves, a grande sacada é que a banda é formada por ótimos músicos e isso faz com que a coisa não desande. Principalmente por causa dos riffs, que são pesados e grudentos, além da condução mais reta da bateria, que foge daquele esquema super produzido dos grupos de hoje.

Os riffs pesados e quebrados de Stand Still, o refrão repetido a exaustão de Everybody Hates Everybody, a trabalhada Snake Skin e a instigante Leaders in the Fog são alguns dos destaques do trabalho, que é bem linear, bem produzido e possui um trabalho de arte que condiz com a proposta musical do quarteto.

Uma boa estreia, que confirma a contramão do músico em sua nova empreitada, ao invés de optar pelo revival oitentista do estilo.

19 de novembro de 2015

UGANGA: "OPRESSOR ENGLOBA REFERÊNCIAS DE TODOS NOSSOS TRABALHOS"

Os mineiros do Uganga celebram o melhor momento da carreira com o novo álbum. Chamado de Opressor, o trabalho apresenta além das tradicionais letras ácidas, o resgate de elementos dos primeiros trabalhos, como Atitude Lotus (2003).

O hoje sexteto que é formado por Manu Joker (voz), Thiago Soraggi (guitarra), Mauricio "Murcego" Pergentino (guitarra), Christian Franco (guitarra), Raphael "Ras" Franco (baixo e voz) e Marco Henriques (bateria) vem fazendo shows com melhor estrutura e está cada vez mais presente em publicações destinadas a música pesada.

Nessa entrevista feita com os irmãos Manu e Marco, eles nos contam sobre a sonoridade do novo trabalho, a vida de uma banda na estrada, convivência e o que fazem quando não estão em tour.

Por João Messias Jr.
Opressor
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NEW HORIZONS ZINE: Podemos definir o novo álbum de vocês, que recebe o título de Opressor, como o “Grande Encontro”, pois mantém o pique agressivo de Vol.3 – Caos, Carma, Conceito com o debute Atitude Lotus, de 2003, quando a banda fazia um som bem mais experimental. Esse resgate foi algo premeditado em algum momento?
Manu “Joker” Henriques: “Grande Encontro”, legal (risos)! Na verdade, e mesmo soando clichê, nada foi premeditado. Temos gostos variados e passamos por várias fases nesses mais de 20 anos de banda, tanto musicalmente como no lado pessoal. Opressor reflete o momento que estávamos quando o gravamos, mas concordo que ele engloba referências de todos nossos trabalhos. Acho que com o tempo o estilo foi definido e essas referências ficaram mais integradas umas às outras.

NHZ: O trabalho, assim como “Vol.3”, apresenta uma sonoridade voltada para os palcos, mas de uma forma mais ampla. Aliando refrãos fáceis de serem lembrados, há um clima de “brodagem” em todo o trabalho, principalmente pelas linhas vocais, que possuem referências do hardcore/hip hop. Para você Manu, qual a importância desse tipo de aproximação com o público, mesmo que num primeiro contato, através de meios “frios”, como CDs e redes sociais?
Manu: Cara, eu venho do underground e esse é meu jeito de me expressar. Hoje em dia tá cheio de banda pagando de “malandro” e isso fica forçado, não engana ninguém... Ainda mais quando fica aquela coisa de “sou o fodão”, ficar dando lição de moral, etc. Procuro falar na linguagem das ruas, dos amigos, do hardcore, mas no geral falo à minha maneira, nunca tentando copiar trejeitos ou passar uma imagem que não seja verdadeira. E claro, levando em conta as diferenças. Sempre curti músicas com refrãos fortes, daqueles que levam a plateia a cantar junto, e acho que nesse cd fomos muito felizes nesse critério. Estamos todos no mesmo barco, olho no olho!

Uganga
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NHZ: A impressão de proximidade é reforçada por meio dos vídeos de Casa e Guerra, onde mostram que são vocês mesmos, fugindo daquele esquema de personagens ou até mesmo super heróis. Conte-nos as etapas de produção, montagem e o feedback da galera.
Marco Henriques: Esses dois vídeos foram filmados durante a nossa segunda turnê na Europa. O de Guerra foi algo mais pensado, com imagens da banda em locais que remetiam a guerra, campos de batalha e coisas do tipo. Já o de Casa contém cenas de toda a tour, mostrando “comé” a rotina de uma banda underground se aventurando do outro lado do mundo. Ambos os vídeos foram produzidos por nosso amigo e parceiro Eddie Shumway (Travesseiro Discos), e o resultado nos agradou bastante. E pelo retorno que tivemos, parece que agradou o público também.

NHZ: No fim do vídeo, vocês utilizaram uma frase de Gandhi “Vencer por meios que não acredito, me traz resultados que não preciso”. De quem foi a ideia de incluir a citação e quais outros autores/personalidades são referência para o Uganga?
Manu: A ideia foi minha, tenho muita admiração pela pessoa de Mahatma Gandhi e acho que essa frase representa bem a idéia da letra: Lute a sua guerra e não a dos outros! Quando acreditamos, somos mais fortes. Particularmente, como letrista, recebo muitas influências; filmes, livros, mestres, o dia a dia, tudo!

NHZ: Outra música de destaque fica para Who Are the True, do Vulcano. Para registrar a canção contaram com a participação de Murillo Leite (Genocídio) e Ralf Klein, da banda alemã MacBeth. O que os motivaram na escolha dos músicos?
Manu: Basicamente o talento desses caras e nossa amizade com ambos. Eles detonaram nesse som!

Marco: A ideia da letra é algo muito atual, essa parada de ”quem é o real?”. Tem muito a ver com muitas coisas que falamos nas músicas do Uganga. Além de ser uma música que tem peso e groove, uma combinação muito presente em nosso som.

NHZ: A exceção do novo guitarrista, a banda há algum tempo mantém a mesma formação. Como é a convivência entre vocês e o que fazem na hora dos famosos perrengues?
Marco: É um casamento, né (risos) E como qualquer relacionamento, tem crises, brigas e diferenças de opinião. Mas no fim das contas a gente sempre consegue se acertar e chegar numa decisão que seja o melhor pra banda.

Manu: Todos se conhecem há muito tempo, alguns desde que nasceram (risos). Com o tempo, ao invés de tentar provar quem está certo, procuramos pensar no que é melhor pra banda e deixar eventuais diferenças pessoais de lado. Na verdade a convivência na estrada é tranquila, acho que os tempos mais turbulentos ficaram pra trás (risos).

Uganga
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NHZ: A banda hoje conta com três guitarristas. O que a entrada de um músico poderá trazer de diferente na sonoridade do grupo?
Manu:
Depende do músico e da banda. No nosso caso a entrada do Murcego rolou devido a identificação mesmo, tanto profissional como musical. Depois de um ano pegando estrada com ele, enquanto o Christian cuidava da saúde, resolvemos peitar as três guitarras e tem dado certo!  Em relação a sonoridade do Uganga creio que ele seja um guitarrista mais melodioso, o cara vem da escola do rock clássico enquanto Christian e Thiago tem uma pegada mais thrash. Já temos músicas saindo com as três guitas e o que posso dizer é que são 100% Uganga, porém indo adiante. Vale dizer que ele ainda contribuiu com excelentes backing vocals.

NHZ: Mesmo numa cena que não anda muito bem das pernas, seja pela falta de público nos eventos, seja pela explosão de bandas covers/tributo vindas do exterior, pode-se dizer que o Uganga consegue se apresentar em bons eventos e com estrutura. Queria saber se todos conseguem viver apenas da banda ou se atuam em outras atividades quando não aparecem shows e tours.
Marco: Seria um sonho poder viver exclusivamente da banda. Mas a realidade não é essa. Todos têm suas outras atividades, suas verdadeiras fontes de renda (risos). Eu sou proprietário de um pub em Araguari (Vitrola Ambiente Cultural) e também da marca de roupas Incêndio. E assim como eu todos trabalham normalmente durante a semana, e nos finais de semana pegamos a estrada para descansar a mente e fazer um pouco de barulho. Como você disse, temos conseguido tocar em eventos bem legais e com certeza isso é reflexo do trabalho que a banda vem fazendo junto com a Som do Darma, que cuida da nossa assessoria de imprensa e empresariamento.

Manu: Eu sou arquiteto e mais recentemente homem do campo também (risos). Além disso, faço com um amigo o programa Underdose (www.youtube.com/c/underdosetv) num canal local e na net,  e como o Marco disse, todo mundo na banda “dá seus pulos” pra sobreviver.

Uganga
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NHZ: Muito obrigado pela entrevista! O espaço é de vocês!
Manu: Apoiem a cena autoral, colem nos shows, comprem o material, pois é isso que faz as bandas irem adiante. Inclusive seus ídolos do passado passaram por isso e tiveram esse apoio. O ciclo não para e somos todos parte da engrenagem. Abraço!

Marco: Não deixem de acessar nosso site pra conferir a agenda de shows, videos e infos da banda.

11 de novembro de 2015

SEMENTES QUE GERAM FRUTOS

White Sand, álbum de estreia dos pernambucanos do Dune Hill mostra o ressurgimento do hard rock no Brasil

Por João Messias Jr.

White Sand
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Dizem que nesta vida devemos fazer três coisas: escrever um livro, fazer um filho e plantar uma árvore. Apesar de  muitos livros e crianças foram concebidas por todos esses anos, o lance para comemorar são o crescimento das árvores. Sim, das árvores, fruto das sementes que os fãs de hard rock plantaram por todos esses anos. Se contarmos com o aparecimento do grunge, já são mais de duas décadas que os fãs de bandas como Mötley Crüe, Kiss, Poison, entre tantas outras esperam por um novo boom do estilo.

Hoje muitas daquelas sementes se tornaram árvores, que hoje começam a geram frutos, fazendo que os fãs de um bom e velho hard rock comemorem. Exemplos não faltam, Púrpura Ink, Crossrock, Desert Dance, Vegas HR, Fúria Louca, entre muitas outras, como o quinteto Dune Hill.

Oriunda de Pernambuco e formada por Leonardo Trevas (voz), André Pontes (guitarra), Felipe Caiado (guitarra), Pedro Maia (baixo) e Otto Notaro, investem no hard, que embora possua passagens alegres, foge daquele esquema festeiro, inclusive abrindo espaço para vertentes como o rock and roll, metal tradicional,  southern rock e o grunge.

Fusão que funcionou e proporciona variedade o trabalho, que possui momentos melancólicos, como a intro White Sand, guitarras inspiradas em Big Bang e a intensidade de Seasons. Porém, é o clima festeiro que é o que abrilhanta o trabalho, como Seize the Day, Soul Love e a certeira Miracles, dona de um belo refrão e solos no mínimo curiosos.

Além disso, White Sand possui uma belíssima capa (apesar de sugerir algo mais prog), feita por Rodrigo Bastos Didier e um encarte que embora simples, é bem feito, o que evidencia a preocupação do grupo com o todo, principalmente nesses tempos modernos em que cada vez menos as pessoas se importam com o material físico.

Que essas sementes continuem prosperando mais e mais para que o estilo retome o topo, desta vez com mais segurança, pois hoje é a força dos fãs faz com que uma banda tenha sucesso, sem a interferência de gravadoras e coisas do tipo. 

IN HARD ROCK WE TRUST!

4 de novembro de 2015

OS RUMOS DO METAL TRADICIONAL

Bruttalian, Syren e Rygel mostram em seus mais recentes trabalhos a evolução da semente lançada por bandas/artistas como Fight e a carreira solo de Bruce Dickinson

Por João Messias Jr.

Cabelos cheios de franjas, guitarras dobradas, roupas de couro e uma gravação crua e agressiva eram sinônimos do que era o metal tradicional durante a década de 1980. Período que lançou discos obrigatórios na prateleira e mente de muitos headbangers. Alguns exemplos ficam por The Number of the Beast (Iron Maiden) e Screaming for Vengeance (Judas Priest), isso sem falar em nomes como Helstar, Manilla Road e Metal Church, que mesmo não atingindo o mainstream, cravaram seu lugar como ícones do estilo.

E como nada é eterno, o estilo necessitou de algumas adaptações. Novidades que vieram em forma de uma produção mais encorpada e uma dose extra de peso e variedade  no instrumental e nos vocais. Quem não se lembra do lançamento de War of Words (Fight), Heart of a Killer (Winter's Bane) e The Chemical Wedding (Bruce Dickinson), que apesar das raízes fincadas no metal tradicional, apresentaram um sopro de renovação. O que é foi muito bom, pois abriu portas para que pessoas mais novas apreciassem essa vertente musical.

Passadas mais de duas décadas, esses trabalhos, além de seu legado incontestável, trouxeram (e continuam trazendo ao mundo), álbuns que vem resgatando esse tipo de sonoridade. E aqui no Brasil não é diferente. Basta uma chegada na internet para depararmos com bandas apostando cada vez mais nessa tendência. Para essas linhas, escolhi três bandas que mostram a riqueza, variedade e qualidade das bandas daqui: Bruttalian, Rygel e Syren.


Bruttalian: Blow on the Eye

Os maranhenses do Brutallian tem tudo para elevar o nome do Maranhão graças ao seu debut, Blow on the Eye.

As referências do metal tradicional (em especial Judas Priest) são enriquecidas com doses letais do thrash americano. Até aí nada de diferente, mas o que diferencia Blow on the Eye dos demais é a forma que isso é empregada, com vocais que não são agressivos o tempo todo. Temos aqui vozes que intercalam agudos, graves, berros e um tempero sarcástico que dá todo um diferencial, como podemos ouvir em You Can't Deny Hate, Hell Is Coming With Me e na faixa título. Apesar da melhor faixa ser Black Karma, graças ao trabalho de ponte/refrão envolvente, que te faz inclusive pegar o encarte e acompanhar a canção até o fim de sua execução. Coisas que nesses tempos de internet é algo no mínimo sensacional!

Só que nem de bate cabeça vive o disco. Temos uma breve momento de calmaria em Psycho Excuse, que tem um ar de Johnny Cash mais pesado e sombrio, mas como disse, é algo passageiro e o peso logo volta ao trabalho. 

Os caras se preocuparam com tudo. Músicas, trampo gráfico excepcional, capa marcante, que são sinais de uma banda que tem tudo, mas tudo mesmo para ter uma carreira duradoura e de sucesso. Digo isso pois Blow on the Eye é apenas o debut.
www.facebook.com/brutallian


Rygel: Revolution

Seguindo a linha iniciada no álbum anterior, Imminent, o Rygel oferece surpresas em seu novo trabalho, Revolution. A primeira, e talvez a mais marcante fica pela estreia do guitarrista Wanderson Barreto nos vocais, que faz um bom trabalho.

Musicalmente, a banda insere uma pegada mais moderna e agressiva em meio ao seu prog/power, o que dá um ar criativo e empolgante com essa fusão de estilos. 

Save Me e Before the Dawn chamam a atenção pelo refrão feito pra cantar junto; Worst in Me pela agressividade e The Story Begins pelo excelente trampo das guitarras.

Outros destaques ficam por conta de Repentance, que conta com a participação de Nando Fernandes (Hangar, Cavalo Vapor), que também produziu os vocais do álbum e Damage Done, que conta com uma bela interpretação vocal.

Aliada a música apresentada aqui, vale destacar o trabalho do encarte, que fogem do esquemão tradicional, com um ar mais despojado que combinam com a proposta do quarteto.

Não há mais o que dizer, apenas que o quarteto formado por Wanderson, Vinnie Savastanno, Ricardo Reis e Pedro Colangelo lançaram um trabalho consistente que tem tudo para render frutos ao grupo.
www.facebook.com/RygelOfficial


Syren: Motordevil

Talvez a mais fiel ao estilo desse texto. Apesar disso, a fidelidade não se resume a comodismo ou zona de conforto, pois a música recebe uma dose extra de peso, reforçada pelos backing vocals e orientação thrash do instrumental, que somada ao talento do vocalista, faz uma mistura agradável e feita para bangear.

Alguns momentos ficam por conta da contagiante faixa que nomeia o trabalho, Rebellion, You're Gonna Die e a épica The Prophecy of Marduk, além do talento do vocalista Luiz Syren, graças ao seu timbre a lá Bruce Dickinson garante a audição do trabalho.

A embalagem do trabalho condiz com o material de áudio, com uma capa chamativa e um encarte simples, mas com todas as informações necessárias, que não é necessário fazer algo esmerado para chamar a atenção, provando que o menos é mais. Muito mais no caso de Motordevil.
www.facebook.com/Syrenmetalband

Três álbuns, cada qual a sua maneira reproduzem com qualidade e autenticidade o melhor do metal tradicional. Estilo que através das mutações, vem se mantendo vivo e arrebatando fãs mundo afora!

28 de setembro de 2015

IMMINENT ATTACK: UM NOVO CLÁSSICO DO CROSSOVER

Novo trabalho do quinteto paulista vem recheado de músicas pesadas, vocais hilários, além de feito para bangear

Por João Messias Jr.

Desde a sua criação (ou descoberta?), lá na década de 1980, o crossover brindou nossos ouvidos e prateleiras com bandas sensacionais como Cro-Mags, Suicidal Tendencias, Nuclear Assault, D.R.I, S.O.D. e Ratos de Porão. Passadas mais de três décadas, vira e mexe temos nomes que mantém o legado vivo, tais como o nosso Bandanos e o Imminent Attack, que nesse ano lançou seu segundo full, chamado de Welcome to my Funeral.

Se no primeiro trabalho, os mamutes (como são conhecidos) já haviam chamado a atenção, aqui os caras saem do status de promessa a realidade, pois a experiência de mais de um década de estrada fizeram que (quase) todos os excessos fossem aparados e com isso temos um disco que tem tudo para cair no gosto dos fãs de música pesada.

E por que digo isso? Pois a mamutada formada por Dinho Guimarães (voz), Erick Veles (guitarra), Rafael Augusto Lopes (guitarra), Ivan Skully (baixo) e André Luis bateria capricharam nas canções, que tem base a energia, capitaneada por uma produção de primeira (a cargo do próprio Rafael), que deixou tudo equilibrado e pesado.

Características que fazem a música brilhe por si própria, como nas pancadarias de Rush of Violence e a Work, Buy, Die. Porém o trabalho apresenta outras facetas marcantes, como os vocais irreverentes de Dinho, que vão numa escola Nuclear Assault/D.R.I, que dão um molho especial nas músicas, fugindo dos berros e urros de hoje.

Ainda tem mais...o flerte com o punk rock deixa canções como Kill Or Be Killed e The Meaning of Life irresistíveis, assim como os duetos de guitarras de G.U.N. e (Generic Useless Nation) e Coward Liar, ambos no melhor estilo Anthrax dos primórdios.

Também vale ser citado o design do trabalho. Embalado em paper sleeve, o trabalho é muito bonito, além dos desenhos da capa/encarte feitos de forma clara, méritos de Carlos Cananea (Paralelo Grano Studio), cuja contribuição fará com que Welcome to My Funeral figure na lista de melhores do ano de muita gente.

E não seria nenhuma heresia dizer que o trabalho tem como daqui trinta anos ser reverenciado como um clássico do crossover!

25 de setembro de 2015

INDIVIDUAL: A PREOCUPAÇÃO COM O TODO

Quarteto paulista lança novo trabalho com canções fortes embaladas por ótimas produção e acabamento gráfico

Por João Messias Jr.

Worst Case Scenario
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Não é necessário dizer a ninguém que formações do death metal como Benediction, Death, Atheist e Morbid Angel são ícones dentro do estilo. Seja pela música competente ou por revolucionar em paradas que já apresentavam sinais de estagnação, conseguiram se destacar perante seus concorrentes.

Embora os grupos citados tenham inúmeros clássicos em sua discografia, o fato é que muitos destes trabalhos não possuem um trabalho de produção e apresentação gráfica a sua altura. Não por culpa das bandas, mas por não haver pessoas especializadas nessas etapas, até por ser algo novo e que seria desenvolvido com o tempo.

Passados mais de trinta anos, essas sementes lançadas não produziram apenas novos grupos, mas também produtores e designers, que dão um colorido especial nos trabalhos das bandas, que também passaram a se preocupar com o todo, por meio de produtos caprichados e que dão gosto de ter em uma coleção. Exemplo seguido pelos paulistas do Individual.

Formado hoje por Marco Aurelio (voz e baixo), Carlos Deloss (guitarra), Vinicius Dias Bebeto (guitarra) e Fernando Tropz (bateria, ex-RavenLand),o quarteto faz bonito em seu primeiro EP, que recebe o nome de Worst Case Scenário.

Adeptos do technical death metal, o quarteto manda canções que privilegiam a intensidade, com poucos momentos agressivos e muita técnica. Técnica que neste caso funciona na música do grupo sem soar como aquelas videoaulas que muitos músicos colocam no Youtube.

O disquinho de cinco faixas possui uma excelente gravação, a cargo de Rafael Augusto Lopes (Imminent Attack, Fantasma), que prima pela nitidez e que assim, deixa que o ouvinte ouça todos os elementos presentes na música do quarteto.

Os destaques do trabalho ficam por conta da faixa que dá nome ao disco, The Synthetic Joy  e Blindfold, que começa bem intimista e vai ganhando peso, mas privilegiando o clima mais lento e soturno, com momentos quase progressivos.

Junto com a boa combinação de música e produção, temos um acabamento em digipack, feito no capricho e uma capa detalhada, a cargo de Gustavo Sazes. 

Pensamento e atitude vencedoras, de que sabe que os próximos passos serão ainda mais altos.

22 de setembro de 2015

WAGNER GRACCIANO: "VAMOS DEIXAR DE SER GUITARRISTAS E NOS TRANSFORMARMOS EM MÚSICOS"

Discos solo de guitarristas (em especial os instrumentais) são em grande parte um emaranhado de técnica e malabarismos desnecessários, que em muito, só consegue arrancar aquele tipo de coisa:"Ah, esse cara toca pra caramba, mas não sabe compor. O que não acontece quando ouvimos "Across the Universe", novo trabalho do guitarrista Wagner Gracciano.

Unindo virtuose e melodia, o disco é uma espécie de resposta aos malabarismos que ouvimos por ai. Nesta entrevista ao New Horizons Zine, o músico nos conta da repercussão do CD, projetos, outros guitarristas e muito mais!

Por João Messias Jr.

Across the Universe
Divulgação
NEW HORIZONS ZINE: Wagner, você lançou em 2013 o seu primeiro álbum “Across the Universe”. Passados dois anos do lançamento, o que está achando da repercussão do mesmo perante público e mídia.
Wagner Gracciano: Os tipos de música menos favorecidos pela mídia popular não tem espaço no Brasil  e tem caído muito, por incrível que pareça. A música instrumental autoral tem perdido força frente aos vídeos de 1 minuto com improvisação, guitarristas tem feito carreira sem ter feito um disco na vida. Dentro desse quadro a receptividade do público ao álbum foi muito positiva dentre as pessoas que curtem a música instrumental, e morna no público que curte improvisação. Mas é compreensível, pois nos tempos modernos onde temos que dividir espaço com milhares de vídeos e músicas de todos os tipos pouca gente tem tempo para escutar uma música com mais de 4 minutos. Fora do Brasil o cenário é bem diferente, existe uma cultura que consume e prestigia esse tipo de música, o que foi muito bom para o meu trabalho, onde consegui muito mais atenção pelo público internacional. Para você ter uma ideia, de todas as vendas do disco 92% delas foram nos EUA, Europa e Ásia, apenas 8% foram no Brasil.

NHZ: O trabalho é dedicado a música instrumental, que prima pela variedade de estilos. Nele podemos encontrar desde momentos mais “guitarrísticos” como “Journey Into the Unknown” até coros do gospel tradicional como “As a Prayer”. Como encaixar vertentes distintas e mesmo assim manter a unidade do disco?
Wagner: Eu sempre fui assustadoramente eclético (risos). O trabalho é só um reflexo do que escuto diariamente, não conseguiria seguir um estilo apenas, Rock Progressivo é o mais perto que consigo classificar, pois teoricamente é o estilo que recebe mais influencias diferentes. Uma coisa que aprendi com a música erudita é ter um ou dois temas principais e tentar ligar todas as peças através deles, é basicamente isso que tentei fazer, criar uma história e conectar cada momento atrás do mesmo tema.

NHZ: “Across the Universe” foi produzido por você, mas a masterização do trabalho foi feita por Adair Daufenbach, o que deixou o álbum com um som jovial e marcante. O que o motivou a contar com este profissional tão conhecido em outros estilos como o metalcore?
Wagner: Sempre percebi que muitos trabalhos instrumentais não primavam pelas produções e sonoridade, sempre muito focados na parte de execução e solos, o que é natural, claro que os clássicos do estilo fizeram história. Quando ouvi o som do Adair gostei demais da timbragem e o cuidado com a sonoridade, imaginei que essa mistura ia fazer o trabalho ganhar outra vida, e não deu outra. Adair tem um ecletismo e um interesse em explorar o novo que casam perfeitamente com o som que eu faço, inclusive outros trabalhos que produzi faço questão de ter sua sonoridade em estilos totalmente fora do contexto rock. Tornou-se um amigo e com certeza essa parceria vai continuar nos próximos trabalhos.

Wagner Gracciano
Divulgação
NHZ: Falando no gospel, você é cristão e não esconde sua fé, pois no encarte do álbum colocou todas as referências bíblicas que o levou a escrever as canções. Você já enfrentou algum tipo de preconceito por isso?
Wagner: Muitos, sofro diariamente. Adotei uma linha de trabalho honesta, mas muito perigosa quase suicida (risos). Não me considero parte do mercado gospel por questões de ideologia e orientação, pois trato música como forma de arte e vivo dela. Acho esse rótulo muito limitador, pois se formos colocar em cada ideologia musical um estilo diferente de música vamos ter Motoqueiro Metal, Cara que leva Chifre Metal, Cara que quer comer mulher Metal, Cara que acredita em Caverna do Dragão Metal, Cara que é contra o governo Metal (risos), enfim, sou cristão e não sou obrigado e rotular minha arte por isso, nem para o meio cristão nem para fora da igreja. Fora do meio cristão, muita gente já deixou de conhecer meu trabalho por isso. A galera acha que no meio do meu disco vai começar “Entra na minha casa, entra na minha vida...”(N.do R.: Música do cantor gospel Régis Danese).Mas não, é música instrumental apenas. O fato é que sou cristão e isso faz parte da minha vida, seria uma tremenda hipocrisia e covardia esconder isso na minha arte pois ela faz parte de quem eu sou. Não quero ser rotulado por isso, pois quero levar a música para todos os lugares possíveis. Não sou músico gospel, meu som não é só para igreja, mas não escondo quem eu sou. Faço música e vivo dela, deixo espaço para cada um interpretá-la como quiser.

NHZ: Para viabilizar o álbum, você foi atrás da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do seu estado. Podemos dizer que é uma vitória, visto que este tipo de benefício é concedido em sua maioria a artistas de estilos de maior alcance popular. Conte como foram as negociações e qual a satisfação pessoal de soltar um disco de rock com um apoio cultural?
Wagner: Os editais estão abertos em todos os Estados, prefeituras e tem a lei federal também. Às vezes faltam projetos para serem avaliados, pois nós, os músicos, não ficamos atentos e deixamos a oportunidade passar. As leis foram feitas para artistas como nós que não tem condições de fazer trabalhos de qualidade do próprio bolso, então temos que correr atrás e fazer parte delas. Nos editais tem todas as informações de como fazer um projeto, está ao alcance de qualquer um. Uma coisa importante, não só para as leis, mas para a carreira de músico como um todo é sempre ter um currículo atualizado, com todos os folders, cartazes de eventos que participou, é um mercado competitivo e precisamos nos posicionar o tempo todo.

Wagner Gracciano
Divulgação
NHZ: Essa conquista sua me fez refletir em uma questão. Hoje as pessoas preferem criticar o mundo da música em geral por ser um processo caro de se gravar um disco, o que é verdade. Mas a maioria delas não se preocupa em buscar alternativas como editais de cultura e formas alternativas como o crowdfunding. O que pensa sobre isso?
Wagner: É exatamente isso. Em geral o músico se prepara para tocar, dar aulas e pronto, tem dificuldades de falar em público de expor ideias com clareza, ter uma posição dentro da sua arte. Se as pessoas lessem mais e comentassem menos na internet o mundo seria bem melhor. Muita gente comenta sobre as leis sem ter o mínimo conhecimento sobre o assunto, na verdade, grande parte dos comentários sobre qualquer assunto na internet é sem ter o menor conhecimento. Nós somos artistas, nossa missão é levar arte e cultura ao povo, a música é um bem da humanidade, vamos nos valer disso para buscar alternativas e saber se posicionar no mercado.

Além da música em si, o que chama a atenção é o fato de ser um músico atuante no seu estado, em Goiás. Você ao lado de outros músicos, criou o Gyn 3. Conte mais deste projeto e qual a repercussão dele no estado e se pensa em levá-lo para outros estados, como São Paulo.
Wagner: Música é uma profissão muito difícil por si só, então precisamos nos movimentar o tempo todo. Se não tem espaço na cidade, invente, junte um grupo de amigos e faça barulho, descubra lugares para fazer apresentações e seja generoso. Uma coisa que fico triste de ver no mercado, e uma coisa que creio estar matando a música instrumental, é que o artista está unicamente interessado em se promover, e muitas vezes fazer com que as outras pessoas ignorem seus colegas, como se o fato do outro não ser visto vai garantir algum sucesso a mais. O Gyn3 foi uma ideia justamente do contrário. Se eu quero ter espaço para tocar preciso dar espaço para os outros. Criamos o evento para que guitarristas consagrados, músicos de forma geral e novos talentos através do concurso possam ter um espaço para mostrar seu trabalho. Isso criou uma cena na cidade que movimentou várias pessoas, onde colocamos em prática a ideia que coloquei no parágrafo acima: se aqui estava sem lugar para tocar, vamos criar espaço para todo mundo e automaticamente estarei criando um espaço para mim também. Devemos ser críticos ferrenhos do mundo ao nosso redor, mas mesmo sabendo das adversidades, inclusive da nossa profissão, devemos tirar a bunda da cadeira e fazer a coisa acontecer. A galera fica reclamando que não tem lugar pra tocar, mas quer criar um espaço para ele tocar sozinho achando que ele vai fazer mais sucesso por isso. Fazer um movimento musical é mais efetivo que ficar fazendo show pra meia dúzia de alunos (porque os colegas músicos não vão). Isso é uma coisa muito bacana aqui em Goiânia, todo mundo vai ao evento de todo mundo e no final sai pra tomar uma (risos). Seria maravilhoso conseguirmos levar essa ideia para outras regiões do Brasil, vamos trabalhar quem sabe da certo.

NHZ: Você já fez promo-tours aqui na capital paulista. Qual a importância deste tipo de trabalho na divulgação de sua música?
Wagner: Sempre bom poder falar do trabalho, expor as ideias musicais para as pessoas terem uma visão melhor da sua arte. O músico é um comunicador, e quem não pensa assim perde grandes oportunidades. Foi muito bacana estar em São Paulo e também nas outras regiões falar de música, composição, guitarra, enfim, falar do nosso universo é uma das grandes recompensas da minha profissão.

Wagner Gracciano
Divulgação
Ainda falando na terra do Túlio Maravilha, outro guitarrista de destaque em seu estado é Walsuan Mitterran. Queria saber se conhece o trabalho do músico e caso positivo qual sua opinião.
Wagner: Grande músico. Goiânia tem grandes artistas, mas não sei o que acontece que tem pouco espaço fora daqui. Aqui dentro conseguem lotar eventos, ter seguidores, e fora do país também, mas no resto do Brasil não sei o que rola. Aqui a faculdade de música da UFG tem grandes nomes da música que viajam o mundo inteiro, como Fabiano Chagas, Diones Correntino, Eduardo Meirinhos, Pedro Martelli, mestro Jarbas Cavendish, Emanuel Gomes (que arranjou as cordas do meu disco) músicos incríveis como Bruno Rejan, Guilherme Santana, Roberto Milazzo e muitos outros que são de nível internacional. Aqui estou mais envolvido no meio da galera fusion e jazz que na galera roqueira mesmo, apesar de sempre abusar de drive nos shows (risos). Mas vejo as pessoas aqui mais preocupadas com o ao vivo e no contato direto que apenas na internet, ai acaba fazendo a ponte daqui direto pra fora, sem passar por Rio-São Paulo.

NHZ: Visto que estamos em 2015, podemos esperar um álbum de inéditas para este ano?
Wagner: O novo disco já está praticamente arranjado e já no processo de gravação. Desta vez vai ter algumas músicas cantadas, vou apostar numa nova estética. Está sendo feito em cima de uma nova história, mais crítica e contextualizada, um clima mais tenso. Além dos músicos que sempre estão comigo, vou contar com algumas participações. Por isso resolvi esperar para fazer o DVD dos dois primeiros discos com um material mais rico e histórias novas para contar. Fora que esse ano a agenda da workshops, shows e master classes estão bem bacanas.

Wagner Gracciano
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NHZ: Muito obrigado pela entrevista. Deixe uma mensagem aos leitores do New Horizons Zine.

Wagner: Muito obrigado ao New Horizons Zine pelo espaço, sempre muito bom falar com a galera. Uma coisa que sempre deixo é que temos que sair do quarto. O contato humano, a imprevisibilidade e a emoção de um show ao vivo foi o que fizeram a música algo tão mágico, e estamos trocando grandes mentes artísticas por vídeos de 1 minuto. Vamos apreciar a arte, deixar de ser guitarristas e nos transformarmos em músicos.

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